quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O brilho da dor

Carolina se sentia triste, como de costume. Ela acabara de receber uma notícia que mudou seu jeito de pensar; seu jeito de agir; a forma como ela se sentia, de modo geral.
Seu amigo não parecia mal, nunca pareceu. Ele era sempre tão animado e festeiro que ninguém percebia suas dores. Isso o corroía, com certeza, mas ninguém estava lá para ajudá-lo quando ele precisou. Ninguém era capaz de decifrá-lo, e ninguém conseguia ver através de sua máscara feliz, justamente por que ele mesmo lutou para que fosse assim mesmo.
A menina via que os olhos do amigo não brilhavam como antes. Apesar do brilho ainda existir, agora era diferente. Ela sabia que a culpa era principalmente dela. Era a primeira vez que se sentia tão mal por causar dor desse tipo em alguém. Ela havia se acostumado em destruir corações. Não que ela gostasse disso, mas como aconteceu mais de uma vez, ela simplesmente se acostumou com aquelas situações. Mas dessa vez era diferente. Ela sentia por ele um sentimento de amizade muito forte. Era só amizade, por mais que ele não gostasse disso.
Doía quando Carolina via aquele brilho opaco e triste nos olhos dele. Ela sabia que o brilho era por causa dela, e sabia que a tristeza também. Era uma dor nunca antes experimentada. Não chegava a ser corrosiva, mas era um pouco cortante. Ela sentia que a vida do amigo que ela tanto gostava se esvaía diante de sua presença. Ela via a dor dele, ela conseguia enxergar através do escudo que ele construiu.
Naquela manhã ele não estava lá. Ela sentiu uma dor no peito, e dessa vez era corrosiva e cortante. Ela sentiu aquela dor pela primeira vez. A dor da perda.
Não imaginava que ele partiria sem dizer adeus; e apesar do fato de que seu comportamento com ela ultimamente a lembrava um grande epitáfio, ela não sentia que tal perda viria de maneira tão forte. Ela sentiu sua falta antes mesmo de receber a notícia de que havia o perdido para sempre, e que nunca mais veria aquele brilho doce no olhar do amigo. Ela sentiu uma lágrima entalada, que depois veio com muitas outras.
Quando conseguiu parar de chorar, se olhou no espelho e viu algo diferente. Nos olhos que ela tanto gostava em si mesma, ela viu um brilho que antes não existia. O brilho que carregaria para sempre consigo, junto com a dor de saber que a decisão de seu amigo de partir desse mundo naquela manhã foi tomada logo depois de pensar nela. Ela não o tinha mais. Ele nunca a teria da forma que queria, e sabia disso. Ele decidiu que não conseguiria viver daquele jeito. Ele deixou seu brilho para ela. Deixou a coisa que ela mais admirava nele, no que ela mais admirava em si mesma. O brilho nos olhos dela agora era doce e carregado de dor. Ela não sabia dizer adeus. Ela não queria ir junto, mas sabia que involuntariamente uma parte dela partiu com ele.
Ela nunca quis fazer tão mal a alguém, mas o que a vida preparou para os dois não era a felicidade, e se ela não queria acabar com a vida dela também, ela deveria continuar; carregando a dor pelo amigo que não a suportou. Ela pagaria por ele. Ela sentia agora tudo o que ele deixou. Ela não esqueceria, ela nunca vai se esquecer.

Um comentário:

  1. Mto legal, mto legal, tá melhorando cada vez mais seus contos!

    Fim da transmissão
    Bzzzzzzzzzzzzzzzz

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